Como Que
Já aqui falei dos sistemas de localização ou navegação, genericamente conhecidos por GPS. Cheguei mesmo a apresentar, na altura, um processo de difamação aos produtores destes sistemas por, sistematicamente e sem qualquer tipo de pejo, colocarem velhinhas a darem as indicações em português. Agora, volvidos alguns anos, com toda a calma e ponderação que a vida nos acaba por ensinar, proponho-me fazer uma análise “como que” psicossomática destes sistemas.
Ora bem, quando se liga o GPS em inglês uma pessoa já sabe com o que conta: Turns lefts e turns rights, mais nada! Estamos entretidos a ver a paisagem e seguimos as orientações quase inconscientemente. A menina inglesa que dá voz ao GPS não distrai nem anima, é assim assim. Sabemos que está ali a cumprir a sua missão como o gajo que orienta qualquer metro está na cabine de comando sem darmos por isso. A voz inglesa do GPS passa, “como que”, despercebida.
Em alemão seria quase a mesma coisa não fosse não se entender patavina do que a alemã do GPS está a dizer. Está “práli”, mas ao contrário do que nos acontece com a voz inglesa, somos obrigados a distrairmo-nos com outras coisas. Não é uma voz incomodativa, mas torna-se uma castração ouvir algo que não nos orienta. Esta voz de GPS provoca-nos aquela ansiedade que, sem remédio, sentimos de todas as vezes que entramos num avião e verificamos que o piloto é, afinal, uma pilota, daí a distracção ser quase “como que” propositada.
Em espanhol um português começa “como que” a sentir-se em casa, com as devidas distâncias, saliente-se. A espanhola não fala, berra. Fala pouco (esta, apenas!) mas quando se decide a falar, berra! Por diversas vezes faço por me perder nas ruas para a ouvir gritar que tenho que inverter a marcha. Mulheres assim, espalhafatosas em público, devem ser “como que” uns cordeirinhos em casa. Mulher que se preze é precisamente assim, mas às avessas, não?
Mudo sem delongas para o português e tenho medo. Observo como o sistema começa a preparar o software para me dar as indicações na língua do meu Camões. Mais uma velhinha com voz de alzeimer no meu caminho?, fechei os olhos e respirei fundo. Não. Não desta vez. A voz é de uma mulher de 25 anos, como espero que a italiana, a que virá a seguir, o seja. Deve ser morena porque as portuguesas loiras e com 25 anos não emprestam a voz a sistemas de GPS. O Vira à direita a 200 metros é dito sem papas na língua. Notei uma grande diferença para a última velhinha do GPS em português com quem tive o desprazer de “privar”. A instrução é dada com propriedade, sem medos e sem falhas. Imagino a portuguesa naquela sua postura altiva e mundialmente conhecida: Mãos na cintura como quem se prepara para pegar o boi pelo cornos. “Vire à esquerda para encontrar o seu destino”. Sim, tenho de admitir que a dobragem em português deste GPS está muito melhor e consegue, até, pôr as hormonas de um polaco aos pulos, já para um português dos que se prezam será preciso bem mais, eu acho. Falta-lhe qualquer coisa ou as coisas que tem não estão “como que” bem amanhadas.
Perdi demasiado tempo tentando justificar a minha voz portuguesa. O destino estava já ali a 10 kms e eu tinha guardado, como sempre guardo, com todos os inconvenientes que essa estratégia acarreta, o melhor para o final. Mudo o idioma para Italiano e volto a ficar com medo. Tive medo que a minha instrutora imaginária, de não mais de 27 anos (tinha 25 da última vez que a ouvi), fosse substituída por um homem. Com italianos uma pessoa nunca sabe com o que conta! Mas não. Ali estava ela e deu para entender tudo ao primeiro fôlego. A mesma! É independente desde os 19 anos e é apenas aqui que, e até Pessoa o diria, se estranha antes de se entranhar: Os seus congéneres masculinos fazem questão de deixar as casas dos pais aí com uns 50 anos para pouparem umas massas para roupas, carros e fogos-de-vista. Mas não. Ela tinha, no máximo, 27, e tinha tudo. Tudo o que vai do encanto dos 25 ao charme do 40. Enganei-me pela primeira vez na estrada sem ser de propósito. Em 10 Kms sabia que me iria enganar muitas mais vezes sem ser de propósito - Nunca admitamos todos os nossos despropósitos! Aquela voz envolve-nos. “Destinatione” tem muito mais encanto que “Destino” e mesmo assim era a palavra que eu menos queria ouvir. Fiz todas as manobras que poderia fazer para ouvir todas as palavras que ela me tinha a dizer. Lindo! Surpreendente! “Gira à destra” é quase “como que” uma dança. Pedi que me levasse ao inferno estando certo de que ela não conseguiria lá chegar. Demorei 3/4 de hora para fazer 10 kms e tudo me pareceu tão rápido como 5 segundos. A relatividade de Einstein foi-me explicada ali como um estalo: Cinco segundos que, ao vivo, imagino, são capazes de nos mostrar tudo o que existe entre 25 e os 40!
Ora bem, quando se liga o GPS em inglês uma pessoa já sabe com o que conta: Turns lefts e turns rights, mais nada! Estamos entretidos a ver a paisagem e seguimos as orientações quase inconscientemente. A menina inglesa que dá voz ao GPS não distrai nem anima, é assim assim. Sabemos que está ali a cumprir a sua missão como o gajo que orienta qualquer metro está na cabine de comando sem darmos por isso. A voz inglesa do GPS passa, “como que”, despercebida.
Em alemão seria quase a mesma coisa não fosse não se entender patavina do que a alemã do GPS está a dizer. Está “práli”, mas ao contrário do que nos acontece com a voz inglesa, somos obrigados a distrairmo-nos com outras coisas. Não é uma voz incomodativa, mas torna-se uma castração ouvir algo que não nos orienta. Esta voz de GPS provoca-nos aquela ansiedade que, sem remédio, sentimos de todas as vezes que entramos num avião e verificamos que o piloto é, afinal, uma pilota, daí a distracção ser quase “como que” propositada.
Em espanhol um português começa “como que” a sentir-se em casa, com as devidas distâncias, saliente-se. A espanhola não fala, berra. Fala pouco (esta, apenas!) mas quando se decide a falar, berra! Por diversas vezes faço por me perder nas ruas para a ouvir gritar que tenho que inverter a marcha. Mulheres assim, espalhafatosas em público, devem ser “como que” uns cordeirinhos em casa. Mulher que se preze é precisamente assim, mas às avessas, não?
Mudo sem delongas para o português e tenho medo. Observo como o sistema começa a preparar o software para me dar as indicações na língua do meu Camões. Mais uma velhinha com voz de alzeimer no meu caminho?, fechei os olhos e respirei fundo. Não. Não desta vez. A voz é de uma mulher de 25 anos, como espero que a italiana, a que virá a seguir, o seja. Deve ser morena porque as portuguesas loiras e com 25 anos não emprestam a voz a sistemas de GPS. O Vira à direita a 200 metros é dito sem papas na língua. Notei uma grande diferença para a última velhinha do GPS em português com quem tive o desprazer de “privar”. A instrução é dada com propriedade, sem medos e sem falhas. Imagino a portuguesa naquela sua postura altiva e mundialmente conhecida: Mãos na cintura como quem se prepara para pegar o boi pelo cornos. “Vire à esquerda para encontrar o seu destino”. Sim, tenho de admitir que a dobragem em português deste GPS está muito melhor e consegue, até, pôr as hormonas de um polaco aos pulos, já para um português dos que se prezam será preciso bem mais, eu acho. Falta-lhe qualquer coisa ou as coisas que tem não estão “como que” bem amanhadas.
Perdi demasiado tempo tentando justificar a minha voz portuguesa. O destino estava já ali a 10 kms e eu tinha guardado, como sempre guardo, com todos os inconvenientes que essa estratégia acarreta, o melhor para o final. Mudo o idioma para Italiano e volto a ficar com medo. Tive medo que a minha instrutora imaginária, de não mais de 27 anos (tinha 25 da última vez que a ouvi), fosse substituída por um homem. Com italianos uma pessoa nunca sabe com o que conta! Mas não. Ali estava ela e deu para entender tudo ao primeiro fôlego. A mesma! É independente desde os 19 anos e é apenas aqui que, e até Pessoa o diria, se estranha antes de se entranhar: Os seus congéneres masculinos fazem questão de deixar as casas dos pais aí com uns 50 anos para pouparem umas massas para roupas, carros e fogos-de-vista. Mas não. Ela tinha, no máximo, 27, e tinha tudo. Tudo o que vai do encanto dos 25 ao charme do 40. Enganei-me pela primeira vez na estrada sem ser de propósito. Em 10 Kms sabia que me iria enganar muitas mais vezes sem ser de propósito - Nunca admitamos todos os nossos despropósitos! Aquela voz envolve-nos. “Destinatione” tem muito mais encanto que “Destino” e mesmo assim era a palavra que eu menos queria ouvir. Fiz todas as manobras que poderia fazer para ouvir todas as palavras que ela me tinha a dizer. Lindo! Surpreendente! “Gira à destra” é quase “como que” uma dança. Pedi que me levasse ao inferno estando certo de que ela não conseguiria lá chegar. Demorei 3/4 de hora para fazer 10 kms e tudo me pareceu tão rápido como 5 segundos. A relatividade de Einstein foi-me explicada ali como um estalo: Cinco segundos que, ao vivo, imagino, são capazes de nos mostrar tudo o que existe entre 25 e os 40!
(Em francês nem arrisquei. Havia “como que” igual probabilidade de me aparecer a voz de um homem no GPS, e, expostas essas condições, o risco não valeria a pena).
3 Bocas:
Li este texto e gostei, mas ficou-me uma dúvida ou antes uma curiosidade que espero satisfazer.
Explica-me a razão de as portuguesas loiras de 25 anos não emprestarem a voz aos GPS's? Por que será?
Nada de especial. Gosto da frase: "Emprestam a voz". E na frase anterior achei que ficava melhor loira que morena, uma vez que queria usar a versão morena para a italiana. Pronto. ;-)
Quem sabe, sabe!!
Convencido!?:)
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